Uma contribuição do Jaime, sempre oportuno.
A escola está em obras...
A escola está em obras...
ESCREVO PARA A ESCOLA E PARA UM FILHO
Meu filho, a Escola morreu ou está para nascer ...!?
Nela aprendia-se a ler, a escrever, o cálculo mental e uma porção de noções que nos exercitavam a memória e nos levavam a papaguear rios e linhas férreas, datas históricas sem fim, lugares e lugarejos desproporcionados num encaixe a fazer lembrar concursos de televisão ditos de cultura geral mas onde esta não entra, desfazados quer da escola quer da realidade, balofos de uma sabedoria de cordel onde não entra o critério.
Depois, a escola virou pretexto, estratégias, campo de batalha ou repartição tributária a afogar-se em papelada com destino certo, viveiro de desobidiências e deserções, enxovalho canalha e sala de exames, avaliações ininterruptas a eito e talhe de foice, sem professores nem alunos.
A escola poderia, poderá, no entanto, vir a ser outra coisa ...
Vir a ser uma Escola!
Lugar onde se olhe para um desenho e nele se veja mesmo e sem receio o que nele está e tanto medo se tem em ver que está;
Lugar onde se olhe ao que se escreve e que em vez de nos retermos obstinadamente na ortografia ou na correcção sintática se vá mais longe, se leia alto e se aperceba nas oralidades o que lá está sem temer o que lá esteja;
Lugar onde se conte, uma história ou uma operação matemática e que nos escondidos delas se leia tudo o que nelas não se vê;
Lugar onde um computador, cumprindo a sua função simplificadora de processos, se ganhe tempo para o demais, para o jogo ou para a brincadeira, para o desporto são e não afunilado no futebol, para o recreio e para o lazer;
Dando lugar à História, à experimentação científica e ao espírito interrogativo e inconformado, às humanidades, à Cultura e às Artes;
Lugar onde se aprenda o que é uma atitude musical ou ecológica onde razão e sentir se harmonizem, onde se cante e se vibre interiormente pela simples fruição musical;
Lugar à interacção no encadeado sempre imprevisto das dinâmicas de um grupo e onde se reforce a importância do exercício da cidadania;
Lugar às Causas e à importância do serviço, da generosidade, da entrega e da solidariedade;
Lugar e antes de mais ao indivíduo centro da sua razão de ser e que não é um número, com o qual se aprende como ensina também;
Não se ensina, aliás, sem estar disposto e sempre a aprender.
Lugar de Pedagogia!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Novembro de 2008
Estoril, 18 de Novembro de 2008