terça-feira, 18 de novembro de 2008

Devagar



Aqui, ainda me estranho.
É a outra face de mim que continua oculta.
Nem a escola permite que seja de outra forma.
O que vejo, quando atravesso o portão e passo pelos corredores e recreios e sala de professores?
Caras tristes e cansadas dos colegas e amigas.
Papéis e mais papéis em cima das mesas.
Esclarecimentos e mais normas e mais abaixo-assinados e mais legislação afixada nas paredes.
Aulas de substituição e mais aulas de substituição.
Professoras que controlam a bicha dos alunos para a cantina!
Agitação mais agitação.
Insatisfação e insatisfação.
E cansaço.
Não vejo o entusiasmo de outrora.
Nem eu o tenho.
Invade-me uma sensação de enorme confusão e deixo-me ficar, a observar sem perceber.
É a minha componente não lectiva que me leva à escola, durante o dia.
Onde me sinto, relativamente, inútil.
À noite, com os adultos é diferente.
Há mais calma, mais vontade de aprender, mais solidariedade.
Mas sei que perdi o comboio e, dificilmente, o voltarei a apanhar.



Apontamento de Viagem


As janelas reflectem o fogo do poente
e flutua uma luz cínzea que chegou do mar.
Quer ficar dentro de mim o dia que agoniza
como se eu, ao fitá-lo, o pudesse salvar.

E quem há que me olhe e que possa salvar-me?
A luz tornou-se negra e apagou-se o mar.

Francisco Brines

4 comentários:

Anónimo disse...

APONTAMENTO

Com um sorriso, registo aqui que no cinzentismo geral há que não esmorecer!

Registo que as alvoradas e os poentes se continuam a suceder umas aos outros, as crianças a sorrir ou os jovens, irrequietos e indomáveis a inconformar-se, muitos adultos também, os mais velhos numa cumplicidade provocadora com os primeiros dando manifesta prova de sabedoria e que, apenas alguns, esses e numa sisudez impressionante, continuam a atrapalhar a vida de toda a gente!

Registo o canto dos pássaros e a vastidão das paisagens, a calmaria do mar e os animais na sua apreensiva pacatez, a brisa do vento que sopra mansa e o Inverno que vai caindo e resfriando os ares no luminoso solarengo dos dias e no recolhimento frio das noites!

Registo que o tempo passa, as contrariedades se resolvem e que não há nada como vivermos de cabeça erguida e com as dívidas saldadas e logo por dizermos aquilo que achamos que temos de dizer e por darmos aso à nossa indignação!

Registo, por fim, que a tristeza não ensina, o cansaço não opina e a agitação apenas traz insatisfação, que sem entusiasmo não se transmite o ânimo e que sem este, morreremos de pasmo numa luz negra que se extingue!

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 19 de Novembro de 2008

Anónimo disse...

PAREDE

Cravo rubro na parede
Dependurado do ar
Plúmbea parece rede
Cheia de imenso mal estar
-.-
Da cor sobra o que a voar
À flor não lhe mata a sede
É como o sangue a jorrar
Súplica que não se mede
-.-
Revolta que não se vede
É o que se grita a cantar
É a côr púrpura que pede
-.-
Pinta de branco a raiar
A luz que outrora lhe cede
Paz adiada no mar
-.-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Novembro de 2008

Anónimo disse...

DEVAGAR

Devagar
Devagarinho
Mexo o dedo mindinho
Sem olhar
Para o destino
Finjo que não desatino
Ao ouvir
O som do sino
Vejo sem ver o que ensino
Sinto
Alegria não minto
Troco as voltas ao que finto

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 30 de Novembro de 2008

Ana Cristina disse...

Já lá vai mais de 1 mês desde o último texto que aqui escreveste.

A este ritmo terás de pintar novamente a casa por não a teres mantido com o uso necessário.

O tempo frio e húmido vai estragar a pintura, tenho a certeza!

Vê lá se apontas as luzes do David para este lugar pintado de fresco que precisa de ser habitado e aquecido.

Podes escrever enquanto o Miguel dorme no quarto amarelo.

Beijinhos.
Nini