Voltei.
Foi no dia 13, não era sexta-feira, mas ninguém diria...
Logo pelas seis da manhã (oito, de cá), o taxista que nos foi buscar ao hotel Capsis Astoria (agradável e bem localizado, caso interesse a alguém), não conseguia abrir a mala do carro para meter a bagagem de 3 pessoas.
O Manel levou um jovem bolseiro, com ele, de nome Ricardo.
O taxista tentou uma vez, tentou duas vezes, tentou três vezes. Já tinha os dedos com sangue de tanto tentar. Foi pedir uma ferramenta à recepção do hotel e voltou. Tentou, novamente, infrutiferamente.
E o tempo a passar.
Acabou por meter as bagagens no assento de trás do carro. Nós lá nos apertámos, no banco.
Viagem rápida até ao aeroporto de Heraklion.
Aí, primeiro contratempo; impossível despachar bagagem para o Porto.
Seria preciso recolher a bagagem em Atenas e novo check-in.
Atenas, um cigarro ao ar livre.
Bicha enorme para check-in. Uma demora imensa para perceberem que queríamos a bagagem para o Porto.
Às tantas, já tínhamos três funcionários a tratar do nosso problema; três a olharem para o computador. Aparentemente, não percebiam o que viam
E a imensa bicha, atrás de nós, a aumentar. E nós, a sermos comidos vivos por olhos americanos, japoneses, italianos. E nós sem culpa nenhuma da incompetência ou ignorância daqueles 6 olhos intrigados dos 3 funcionários dessa companhia de aviação que dá pelo nome de Aegean Airlines.
Lá se desenvencilharam; sempre a sorrir, mesmo quando não dão conta do recado.
Sorria! Está a ser filmado! Competência fica para depois...
Uma pausa anti stress, antes de entrarmos para o local de embarque e para um pequeno-almoço; para mim, um último frappée.
Passagem pelo controlo da roupa, dos sapatos, da carteira, dos atacadores dos sapatos; implicaram com a minha agulha de crochet, mas lá ma deixaram passar.
Mudança de porta de embarque, ao fim de meia hora de espera.
Lá nos mudámos. Sem explicações. Somos bem mandados...
Nova porta de embarque; mais meia hora de espera.
Já com atraso; sem explicação de motivo.
Finalmente, lá fomos entrando, a passo mais lento do que o do caracol.
Parece que nesta agência têm problemas de literacia no que toca a meter os bilhetes na máquina de leitura do código de barras.
Talvez fosse melhor porem um visto a vermelho ou azul marinho.
O jovem palerma de fato escuro, com ar de executivo que se acha indispensável no seu importantíssimo papel de validar o bilhete de embarque resolveu achar que o Manel tinha um ar suspeito, de cigano mal enquadrado ou talvez de primo afastado do Bin Laden ou familiar do
bispo ortodoxo (será?) lá da terra
Folheou uma a uma as páginas do passaporte; de cada vez que folheava e via os países por onde
aquela pessoa estranha andara, levantava os olhos na direcção do Manel e continuava a folhear.
E o atraso já grande a aumentar, graças àquele trabalho escrupuloso de ver uma coisa que já tinha sido vista pelas caixas de RX e pelo apalpar dos passageiros, por parte dos colegas...
Eu, já de trombas, a falar sozinha, a perguntar donde teria saído aquela nova abécula, espécie de idiota, que (imagino eu) pensa que qualquer ser humano de cor um pouco mais escura é, certamente, pessoa a avaliar com redobrado receio.
Por questões de segurança, claro!!
Digamos que o tal jovem palerma e imberbe, predisposto, desde cedo, a desconfiar dos vários tons de pele, nunca se deve ter olhado ao espelho porque não tinha pele clara, como a da minha pessoa que sou, obviamente, produto das melhores castas da Beira Alta.
Finalmente, com quase uma hora de atraso...lá fomos, para Frankfurt.
Eu, sempre, de trombas.
Ninguém teve a amabilidade, delicadeza, profissionalismo...o que quer que se chame a isso ... de nos dar uma explicação ou pedir desculpa.
Nem quando lhes dissemos que tínhamos um voo de Frankfurt para o Porto e lhes pedimos que contactassem a Luftansa ou que nos deixassem passar para bancos da frente.
Íamos mesmo na cauda do avião e, só para sairmos, demoraríamos meia-hora.
O funcionário que estava a ler uma revista tipo Hola, lá no canto dele, olhou para mim com ar estúpido, sorrriu de forma amarela e disse que ia correr tudo bem...que já lá estavam à nossa espera.
Muito duvidoso...
E assim ficámos esclarecidos.
Claro que nada correu bem.
Quando chegámos, já o avião para o Porto tinha saído há dez minutos.
Raiva pela nossa impotência e pela incompetência deles ... sempre com o mesmo sorriso idiota.
Não nos voltam a apanhar na companhia Aegean (acho que é assim ou parecido).
Depois foi o que se imagina - 7 horas à espera de novo voo para o Porto.
Ainda por cima, fuma-se naqueles cubículos tipo gaiolas de animais perigosos.
A mim, só me apetece dizer adeus a quem passa.
Depois de já ter dormido esticada em cima de 3 bancos, de ter ido lavar as mãos cento e cinquenta vezes, de ter bebido vários cafés, de ter terminado mais um cachecol, de ter comido quase um chocolate enorme inteiro, de ter terminado o último livro do Helder Macedo -
Natália (que não apreciei como os outros) e de ter visto aterrar 527 aviões, lá embarcámos.
Como ainda era dia 13 - 23h 45min.- tinha que surgir mais qualquer coisinha.
Depois de um voo sossegado e sem sobressaltos, o avião fez-se à pista do aeroporto Sá Carneiro (fraco nome para aeroporto!).
Quase a sentir já o safalto, não é que o avião "acelerou" e voltou a subir? E nós a vermos o Porto, outra vez, de lá de cima. E eu a ver que já íamos para Lisboa.
"Borregou", disse o manel que é muito entendido nestas coisas de viajar...
O.K.
Pela explicação do alemão que ia ao volante, e que tinha uma pronúncia intragável e incompreensível de inglês, parece que estava um avião a acabar de levantar, ainda muito próximo da pista ou que o vento não estava de feição.
Ninguém percebeu...
Depois dumas voltas lá por cima, aterrou de mansinho.
O resto correu bem; as 3 gatas estavam à nossa espera, sentadas nas escadas.
Só temia que os bolos que trouxe da Grécia e que se chamam Vaclava, estivessem estragados depois de 7 horas num aeroporto quente e abafado.
Mas não; estão bons.
Fiz esta viagem, há muitos anos e sem contratempos, com o David.
Andámos, por lá, os dois à procura de um bouzouki.
Desta vez, passeei-me, só eu, pelos mesmos lugares; os mesmos sons, os mesmos aromas. Os olhos verdes do meu filho a confundirem-se com o azul do mar.
A saudade, levei-a e trouxe-a...intacta.
Sons da Grécia