Lamento.
Não estando, ainda, habituada a dois blogues...confundo-os.
Provavelmente porque não estou completamente tapada pela pintura com que tento cobrir-me.
E o David transferiu-se para aqui, sem que de tal me tivesse apercebido.
Hoje, deixei o cargo de Presidente da Assembleia do meu Agrupamento.
Não me disponibilizei como candidata a presidente do novo Conselho Geral Transitório.
Estou cansada e sem o entusiasmo necessário para desempenhar este tipo de cargos. Gostei, ao longo destes (talvez) nove anos em que me envolvi.
Hoje, essa pasta foi para novos colegas, também novos em idade.
Sempre fui crítica do eternizar-se nos cargos; gosto de actuar em conformidade com as opiniões que manifesto.
Portanto ... estou bem; sinto-me mais leve sem essa responsabilidade, agora.
Continuo lá, apenas como docente.
Sinto-me mais livre para dizer o que penso. Não que, antes, não o fizesse... mas, enfim, sempre era a presidente e convinha não ser o centro da ribalta e ser suficientemente isenta para que todos se pudessem manifestar.
Saio normalmente, como quem vai dar um passeio até ao mar.
Quero estar disponível, sem compromissos deste género, para responder sempre que o meu neto me chamar...
Quero tentar dar início ao Doutoramento.
Prometi ao David que o faria, quando a vida melhorasse, cá em casa.
A vida não melhorou e o meu filhote partiu, mas quero cumprir essa promessa que lhe fiz e que repeti ao Sérgio.
Vou devagar, também aqui.
Sempre empurrada pelo que aprendi com o David.
As mudanças têm sido muitas e penosas.
As aulas à noite agradam-me; não me agradam as reuniões intermináveis da quinta-feira para (supostamente) as preparar.
Os alunos da noite são empenhados, são simpáticos; agradam-me. Ajudam-me, nem eles imaginam quanto. Quantas vezes, me apetecia não sair de casa; ficar aqui, na outra casa...
Depois, empurram-me para fora e lá vou e acabo a sentir-me melhor com eles.
Precebem-me!
Os apoios individuais a alunos com dificuldades em aprender agradam-me; rapidamente me encaixo no perfil dos miúdos e a coisa vai sem "turbulência".
Do resto da agitação da escola mantenho-me mais ou menos do lado de fora.
Algumas situações são exageradas e não compreendo como se pode ficar "de rastos" com coisas que, agora, me parecem relativamente banais.
Nestes dois últimos anos de doença do David, a minha visão do mundo sofreu alterações substanciais.
Estou mais exigente e fria na forma como abordo e sinto as questões; estou, também, estranhamente, mais tolerante.
Como dizem os gregos "No pressing, no stressing".
3 comentários:
Força Isabel!
Vá ver "A turma" ("Entre les Murs") de Laurent Cantet e espero que goste.
PS: os Gregos falam inglês?
Manuela Baptista
Gostei imenso do que li aqui, sobretudo da parte final, a relativizaçao das questões que realmente são muitas vezes banais e desnecessáriamente desgastantes.
Hoje estou um pouco cansada para desenvolver filosofias de vida, mas a Isabel já disse tudo. Fico feliz e dou-lhe os parabéns por essa vontade de fazer o doutoramento, espero poder estar por aqui para ver chegar esse dia.
Beijinhos
Branca
TRÊS TEMPOS
Se não pusermos na nossa pintura a impressão digital da tinta que nos cobre esta abre brechas e desfaz-se, não se aguenta fresca e pintada ainda que revestida de outros contornos, maturidade e diferentes perspectivas.
-.-
É bom rodar e ter um olhar independente e livre, descomprometido e distanciado sobre a matéria da nossa profissão.
Tal ajuda-nos a reflectir menos condicionados pelas variáveis múltiplas que, quantas vezes, levam à omissão do cerne ou à distorção do objectivo central que nos deve nortear e sem o qual, perdendo-se-lhe o enfoque, a nossa missão se desvirtua e os resultados, quantas vezes, se esfumam, se corrompem.
-.-
O professor que julgue nada ter a aprender com os seus alunos, torna-se incapaz de ensinar o que quer que seja.
Ai dele se não se dispuser, com humildade, a ser, em simultâneo, aluno pela vida fora.
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 31 de Outubro de 2008
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